lunes, 26 de octubre de 2015

Colapsos


No, no hablamos ni de Aníbal ni de Daniel Osvaldo. Hablamos del Imperio, tema recurrente en nuestras cavilaciones estratégicas. Russia Today desempolvó hoy un viejo artículo que recuerda una nota de hace tiempo sobre un posible colapso de la Gran Democracia del Norte. En fin, pasen y vean:


Título: "El mundo debe prepararse para el colapso de EE.UU. al estilo soviético"

Epígrafe: La larga serie de reveses económicos, geopolíticos y sociales que enfrenta EE.UU. desde inicios de este siglo, ha llevado a la nación norteamericana a un punto crítico en el que es probable su desintegración al "estilo soviético", sostiene un influyente analista geopolítico brasileño.

Texto: En su artículo publicado en el portal 'Carta Maior', el profesor de la Fundación Getulio Vargas de Sao Paulo, Antonio Gelis-Filho, señala que, a pesar de que EE.UU. se enfrenta a una amenaza nuclear del Estado Islámico, su desintegración no será propiciada por el grupo islamista.

"El país parece haber llegado a un callejón sin salida en su declive", comenta Gelis-Filho, que cita como ejemplos los "fracasos geopolíticos" sufridos en Ucrania, donde Rusia ha sido capaz de hacer frente a Washington para defender sus intereses estratégicos, y en el sudeste asiático, donde China está construyendo islas artificiales en territorios que son objeto de disputa con varios aliados de EE.UU., que por su parte, "ha lanzado varias advertencias, pero que son ignorados por Pekín como si se tratara del zumbido de un molesto mosquito".

Según el analista geopolítico, el panorama para Washington, a parte de los reveses internacionales, se agravó por los problemas sociales y económicos dentro del país. "La prometida recuperación económica nunca llegó y más biense contrajo a una tasa anual de 0,7% en el primer trimestre del 2015", recuerda Gelis-Filho.

"Después de todos estos fracasos, además de la visible desintegración del tejido social estadounidense con disturbios cada vez más frecuentes por la brutalidad policial y la creciente desigualdad", el profesor considera probable un colapso de EE.UU. al estilo soviético. El analista deja claro que tal desintegración no es inminente. Sin embargo, advierte que el mundo debería estar preparado para tal escenario porque tendría graves consecuencias.


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Ahora pasemos a la nota original (en portugués) de Antonio Gelis-Filho aparecida hace pocos meses en la sección Internacional de la publicación brasileña Carta Maior:


Título: Deveríamos nos preparar para um colapso dos Estados Unidos ao estilo soviético? A resposta, por diversas razões, é sim

Texto: A longa sequência de insucessos econômicos e geopolíticos dos Estados Unidos desde a virada do século recebeu agora mais um elemento: a ameaça de um atentado nuclear no solo norte-americano, feita dias atrás pelo Estado Islâmico. Absurdo? Até prova em contrário (que, esperamos, nunca venha) sim, é um absurdo completo. Mas o ponto aqui é menos a inimaginável possibilidade da concretização do atentado que a despreocupação com que a ameaça foi feita. Obviamente, o Estado Islâmico não teme os Estados Unidos. E por que deveria? Após decapitar reféns norte-americanos, após ver no campo de batalha soldados iraquianos, supostamente muito bem treinados por instrutores americanos, fugindo da luta, após capturar uma enorme quantidade de material bélico americano e após quem sabe quais outros fatos ainda mais assustadores que nunca se tornaram conhecidos fora do terreno de operações, a horda terrorista pode se dar ao luxo de ameaçar com um ataque nuclear aquela que é, ao menos no papel, a maior potência mundial.

O Estado Islâmico expressa, com sua usual violência extrema, aquilo que já é percebido pela maior parte do mundo: os Estados Unidos parecem ter atingido um ponto de não-retorno em seu declínio. A Rússia lutou - e venceu - uma guerra não declarada contra o Ocidente na Ucrânia; a China agora ocupa sua “Crimeia marítima”, as ilhas do Mar do Sul da China onde constrói e militariza ilhas artificiais em atóis reclamados por várias nações, mas que ela considera como parte de seu território. Os protestos e advertências dos Estados Unidos contra tais movimentos chineses são tratados por Beijing com o desprezo que é tratado o zumbido de um pernilongo inconveniente. A recuperação econômica norte-americana prometida pela enésima vez no final do ano passado revelou-se na verdade uma retração econômica de 0,7% no primeiro trimestre de 2015, em valores anualizados. Após tantos falsos anúncios de recuperação econômica, após todos os fracassos geopolíticos, após os sinais de decomposição do tecido social do país com os tumultos em Ferguson e Baltimore contra a brutalidade policial, talvez tenha chegado a hora de fazermos a pergunta impensável: deveríamos nos preparar para um colapso dos Estados Unidos ao estilo soviético?

A resposta, por diversas razões, é sim. Isso não significa que tal colapso seja inevitável ou mesmo provável. Mas o fato de ser possível e as potenciais consequências gigantescas de tal evento faz com que preparar-se para ele, ao menos como cenário estratégico, seja aconselhável para qualquer governo responsável. E por que tal colapso é possível? A explicação está nas razões que mantêm o país unido. Os Estados Unidos não foram construídos ao longo de linhas étnicas, algo que tende a manter as estruturas nacionais unificadas mesmo em tempos de crise. Também não há uma predeterminação geográfica: sua fronteira com o Canadá é quase inteiramente artificial. Na verdade, os Estados Unidos são uma polity artificial, e não uma que surgiu historicamente de forma mais ou menos espontânea. É o resultado de um plano de expansão muito bem-sucedido. E esse é o único e essencial fator unificador do país: sucesso. A insurreição Confederada no século XIX já deixava claro que o potencial físsil do país é grande. Mas o retumbante sucesso do projeto americano desde então criou um monstro que se alimenta de sucesso. E esse monstro agora está faminto. A despeito de toda retórica em torno dos ideais de liberdade, a razão que leva a maioria dos imigrantes ao país é uma só: progresso material. O que poderá manter o país unificado quando esse progresso já não for uma possibilidade razoável? Á medida que o cobertor revelar-se cada vez mais curto, as elites locais dos estados mais ricos terão incentivos para não mais bancarem os estados mais pobres. O culto do sucesso, essa verdadeira “religião secular” dos americanos e que foi responsável pela longa e rica trajetória do país, será então o combustível para seu possível fracionamento.  É tentador imaginar que as Forças Armadas do país evitariam tal colapso. Inicialmente isso poderia ser verdade, mas o enfraquecimento econômico, a partir de certo ponto, também ameaçaria os interesses da corporação, e livrar-se daquilo que então poderia ser visto como o “peso morto” dos estados mais pobres garantiria mais, e não menos, poder àqueles que conseguissem controlar as forças armadas. O fracionamento poderia então facilmente escapar ao controle destes. Algo assim aconteceu na União Soviética.

Um hipotético colapso dos Estados Unidos seria muito mais perigoso para o mundo do que foi o colapso da União Soviética. Esta fora construída em torno de um núcleo histórico extenso, a Rússia. Isso permitiu que o colapso seguisse linhas historicamente pré-definidas. O mesmo foi verdade para as outras repúblicas soviéticas. Elas já possuíam uma vida institucional dentro da União Soviética, portanto as linhas de desintegração já estavam desenhadas. Onde essas linhas não estavam claras, a dissolução foi seguida de conflitos. Abkhazia e Ossétia do Sul lutaram pela independência contra a Geórgia; Armênia e Azerbaijão lutaram pelo controle de Nagorno-Karabakh e Nakhichevan; a Moldávia dividiu-se em dois; Ucrânia e Rússia disputariam o controle de Sebastopol. Esses conflitos permanecem até hoje sem resolução ou agravaram-se. Como imaginar o que poderia acontecer nos Estados Unidos, um país onde se estima que o número de armas de fogo nas mãos de civis pode chegar a 200 milhões? É pouco provável que tal hipotética fragmentação seguisse as linhas estaduais. Se por um lado é verdade que alguns estados norte-americanos possuem uma longa história e riqueza suficiente para tomarem conta de si mesmos, é também verdade que muitos deles foram destacados de enormes territórios de forma mais ou menos arbitrária. As muitas linhas retas que definem as fronteiras de vários estados do oeste comprovam esse fato. Muitos desses estados não possuem saída para o mar e dependeriam de outros para exportarem o que quer que produzissem. E muitos condados na fronteira com o México possuem uma enorme população mexicana ou mexicano-americana, que naturalmente buscaria proteção no país do sul em caso de colapso.

Ademais, o colapso soviético ocorreu durante tempos economicamente róseos para o Ocidente. Absorver economicamente os fragmentos da União Soviética foi algo natural, e até mesmo empolgante. Mas mesmo considerando-se o sucesso econômico atual da China, tal possibilidade não existiria hoje, em uma economia mundial em condições muito piores.

Outra razão para temermos e nos prepararmos para tal contingência é o “império” formado por centenas de bases militares norte-americanas espalhadas pelo mundo, frequentemente muito mais bem armadas que os governos locais. Quem as administraria e como? As lições do colapso soviético aqui não são fonte de otimismo.

E temos ainda o maior de todos os problemas: quem cuidaria do enorme arsenal nuclear norte-americano? Diferentemente daquilo que ocorreu na União Soviética, onde Moscou possuía poder suficiente sobre as forças estratégicas soviéticas para garantir o controle sobre elas durante o colapso, nada nesse estilo existe nos Estados Unidos.

Essas são razões suficientes para que os tomadores de decisões políticas nas potências mundiais ascendentes preparem cenários lidando com a situação, ainda improvável, mas de maneira alguma impossível, de um colapso norte-americano ao estilo soviético.

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